(II) Enganação

Victor Osório
7 min readApr 8, 2021

Eu não escrevo isso com a expectativa de convencer ninguém, isso funciona como um diário que eu não divulgo. Sei que alguns leem, se eu conseguir abrir os olhos de apenas uma pessoa, isso é um grande feito.

— Mas como descrever o dia de ontem? Não tenho resposta pra essa pergunta. A imagem que me veio a cabeça vem do livro Entrevista com o vampiro, ou do O vampiro Lestat, da Anne Rice: O Teatro dos Vampiros.

No livro, os vampiros de Paris se organizavam em um grupo um tanto quanto coeso. Eles eram uma trupe de atores que tinham uma sala de teatro e todas as noites organizavam um show para poderem escolher suas vitimas. O show, em si, tinha dois objetivos (i) enfeitiçar os espectadores (não entreter, mas enfeitiçar) e (i) escolher vitimas.

(Longe de mim comparar os vampiros da Anne Rice atores paspalhões, eles eram bons, ontem vimos atores paspalhões.)

Mas esse termo também me remete a música do Renato Russo em sua fase depressiva. Eu não sei o que ele queria dizer, não sei se ele se referia ao livro de Anne Rice (ou talvez a um clássico de verdade com C maiúsculo que ambos leram), mas lá tem algumas pérolas:

Ninguém vê onde chegamos
Os assassinos estão livres
Nós não estamos

(…)
Voltamos a viver como há dez anos atrás
E a cada hora que passa, envelhecemos dez semanas
(…)
A riqueza que nós temos
Ninguém consegue perceber
E de pensar nisso tudo
Eu, homem feito
Tive medo e não consegui dormir

Ele provavelmente se referia a alguma crise econômica que passamos por volta de 1980–90, tem várias, é só escolher.

Mas aonde quero chegar? O que vimos ontem, quando o STF julgou uma ação falaciosa, foi um grande teatro. Os atores não esperavam ganhar a ação em momento algum, eles queriam apenas a lhes fossem negado o pedido.

O erro está na pergunta

Quando eu não tinha muito o que fazer, entrava em debates no Facebook, até perceber que somente a rede social ganhava com os debates. Mas umas das coisas que aprendi foi a olhar a pergunta e decidir responder ou não. Quando uma pessoa propõe uma pergunta, o que ela está propondo é uma pauta, você pode decidir se vai se pautar por ela ou não. Existem pautas que são justas e éticas, mas também existem pautas antiéticas. Mas essa é excessivamente antiética.

O argumento era: Estão impedindo o nosso direito de culto? Mas seria isso verdadeiro? No mundo da pós-verdade, a resposta sempre pode variar, mas mesmo assim, as pessoas crerão piamente na resposta que mais lhe convém.

E mais, a COVID-19, também, é uma peste que ajuda a favorecer discursos falaciosos. Na verdade, é a peste perfeita para o mundo da pós-verdade. Ela vai se mostrar apenas 10% dos infectados, e desses apenas 10% vão sofrer (não tenho as estatísticas, se você quiser que eu corrija, me passa os dados reais), assim há pessoas que creem que é um mal menor, uma “gripezinha”. Logo podemos deduzir que 98% das pessoas realmente vão se questionar se esse é um grande mal, pois foram expostos e não apresentaram muitos sintomas. Como nas falácias usadas por neopentecostais: se você pedir com fé verdadeira, você recebe, mas se não tiver fé, não terá retorno.

Como eu vejo pastores neopentecostais

(Ora, essa falácia é espetacular! Porque quem a usa sempre ganha. Se um fiel ficar rico, vai atribuir sua sorte a teologia. Porém, se o fiel não ficar rico… bom isso significa que ele não tem fé. Logo, na melhor das hipóteses, ele ficará envergonhado . Se não se culpará pelo resto da vida por não ter tido fé suficiente para enriquecer.)

Mas quem tem contato com pessoas que lidam com essa praga sabem, as UTIs estão cheias e as pessoas estão morrendo. Esse é um fato.

Outro fato, é que já se provou que ela não se transmite tanto por toque, mas por vias aéreas. Logo, álcool em gel não vai te ajudar, o que vai te ajudar é não estar no mesmo ambiente que muitas outras pessoas. E é exatamente nesse ponto que entra a pergunta.

Assim, ir para qualquer aglomeração em um local fechado, é você pegar uma arma com um tambor com espaço para 20 balas, colocar uma e praticar roleta russa. É um suicídio em potencial.

A hipocrisia e falsa fé

“O Retorno do Filho Pródigo” de Rembrandt

Em momento algum estão proibindo ninguém de professar ou cultuar qualquer coisa, estão proibindo as pessoas de se aglomerar em lugar fechado. É hipocrisia afirmar que usam todos os protocolos de segurança, nem ao menos sabem dizer quais os são.

Eles estão distorcendo a pergunta para legitimar alguma coisa. E não é só a pergunta, estão distorcendo toda a teologia cristã. Se há alguma religião que deveria estar gritando são os judeus do templo antigo, mas Cristo ressignificou o templo.

Qualquer Cristão que afirma, ou sequer faz essa pergunta, deveria rasgar da sua bíblia todo o Novo Testamento. Leia o trecho abaixo e veja você mesmo que não faz sentido;

Disse-lhe a mulher: Senhor, vejo que és profeta.
Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar.
Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai.
Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus.
Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.
A mulher disse-lhe: Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo.
Jesus disse-lhe: Eu o sou, eu que falo contigo.

João 4:19–26

Eles mentem!

Qual é a intenção?

Quando existe uma teoria da conspiração, nunca devemos olhar os fatos, mas as consequências deles antes.

E se o STF liberar os cultos presenciais (essas duas palavras devem vir juntas sempre), o que acontece? Prefeitos e governadores são desmoralizados e o presidente pode impor a sua política em todo pais.

E se o STF não liberar os cultos presenciais, o que acontece? Eles ficam do lado de prefeitos e governadores, como se fossem um único grupo! Ora! O que é uma conspiração? É uma trama feita por um único grupo com um único intuito, que nesse caso seria… Derrubar o presidente!! Entende a lógica?

Esse teatro não foi feito para que os cultos fossem liberados. Eles mesmo sabem que isso é improvável, pois não há nenhuma liberdade em jogo. Esse teatro foi construido para que possam afirmar claramente: existe uma conspiração esquerdista a nível internacional que está perseguindo os cristãos.

E os brasileiros?

Essa é a coisa mais admirável da insanidade de tudo isso. Ninguém está pensando no povo. E se esses 1% que vão morrer se pegarem a praga? Que morram!

Faça um favor para si mesmo, assista a animação “Uma história de amor e fúria”

Se eu supor que eles não estão pensando nos brasileiros, estou dando o benefício da dúvida para eles. Mas creio que não, eles sabem as consequências dos seus atos. Sabem que mesmo que uma igreja abra, alguém vai morrer por esse ato. Eles não pensam na proteção da vida, eles usam a vida como moeda de troca em busca de poder político.

Eles usam a história protestante, que criou democracias na Europa, para criar ditaduras aqui. Todos esses nomes que vemos defendendo a abertura de igrejas, se calam quando falamos sobre a ditadura militar de 64.

E o resto do mundo?

Cultos presenciais não estão acontecendo no restante do mundo democrático. E nem foi preciso alguém decidir por isso, eles entram na categoria de aglomeração. Em países extremamente religiosos como Itália, não existe esse debate.

Tratamento precoce não existe no resto do mundo também. Todos sabem que os remédios que foram testados, não deram resultados, por isso tiveram sua ineficiência comprovada.

(Ora, é lógica, se eu não consigo provar eficiência, é porque eu provei a ineficiência. Eu não consigo ver, tocar, aquilo que não existe, logo não há provas estatísticas.)

Ninguém está guerreando por essas coisas, porque a única guerra que existe é contra um vírus.

Se você não entende bulhufas de teologia. Posso te dar uma pérola sobre o texto que citei. Esses teólogos odeiam periféricos, não pisam em uma favela nem se pagarem. Essa mulher é uma mulher periférica, era de uma etnia desprezada. Judeus não falavam com mulheres (só a sua e olhe lá) e nem com pessoas dessa etnia.

O que Jesus faz? Além de conversar… Ele se revela o Messias. Agora procure outro lugar da bíblia onde ele se revela abertamente que é o Messias… Não tem! Ele só se revelou o Messias e teve uma das maus belas conversas com uma mulher desprezada.

Isso que eu nem falei que ela tinha tido 5 maridos e estava “amasiada” com um homem. Será que esses teólogos tem culhões para conversar com uma pessoa assim com tanto carinho?

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Victor Osório

Senior Software Engineer@Openet | Java | Software Architect | Technology | Society