Como ser um desenvolvedor relevante sempre?

Victor Osório
6 min readApr 23, 2021

Sobre o que você está escrevendo? Sobre o que você está falando? Como será que podemos criar conteúdo relevante por muito tempo?

Esse ano eu li um livro de tecnologia escrito há mais de 20 anos. Uns dois anos atrás, comprei um livro de tecnologia que está perto dos 50 anos. Ambos os livros foram leituras muito proveitosas.

Enquanto isso, trabalho com Telecom, e venho observando as promoções de livros sobre as plataformas que estão ficando velhas. Comprei um de CAMEL e outro de LTE. São temas que um dia vou ter que aprender, li partes e já deixei de lado. São temas que terei que aprender mas não são importantes leituras.

Agora porque existem livros com 20 ou 50 com leituras muito proveitosas e outras com 10 anos que já ficaram no passado? A resposta está sobre o que você quer escrever. Vamos divagar um pouco para depois entender melhor?

Tecnologias, Técnicas e Conceitos

O mundo da tecnologia pode ser divido entre aqueles que leem o manual e os que não o leem. Eu confesso que não sou o cara que quando abre a caixa pega logo o manual, vou demorar muito pra ler, mas em algum momento vou ler. Mas essa definição pode ser bastante útil. E vou mostrar o porque, mas para isso precisamos definir o que é Tecnologia, Técnica e Conceito. (Conceituar conceito… Pode isso?)

Técnica é método estruturado para atingir um determinado fim. Essa é a essência do mundo da tecnologia, é o pensamento estruturado, pragmático, a essência do ser engenheiro. Quando eu começo a estruturar uma técnica é quando eu começo a pensar no meio de alcançar algo. (Ok. Nesse ponto você está pensando em algoritmo, não?) Mas ela não se reduz ao mundo da tecnologia não, podemos ter técnicas de várias áreas. Posso falar de Técnicas de persuasão, Técnicas de Vendas… Ah, uma área bem cheias de técnicas é o UX e seus Design Thinking… Isso é a pura técnica! (Se quiser se aprofundar nesse conceito, dá uma lida no link abaixo)

A Tecnologia é a materialização da técnica. Por exemplo, inventamos uma técnica para digitalizar sinais, ela evoluiu e surgiu assim seu celular. Ele nada mais é do que séculos de técnicas de digitalização de sinais embutidos em um aparelho pequeno. Eu posso amanhã inventar uma nova Técnica de troca de mensagens para substituir a modularização de sinais em frequência, e creia em mim, se ela for mais vantajosa que o 5G, em poucos anos será hegemônica.

O Conceito é a elaboração formal de coisas já existentes. Normalmente o conceito é um trabalho acadêmico e a técnica um trabalho da indústria. Mas a formulação do conceito permite uma grande evolução da Técnica. Um exemplo disso é a máquina a vapor. Os conceitos de termodinâmica foram formulados uns 100 anos depois do motor a vapor, e com ele foi possível melhorar o rendimento do motor, e até inventar outros tipos de motores.

Quando vamos parar para escrever, inconscientemente temos essas 3 opções a nossa frente. E é a escolha dela que vai nos dizer o quanto nossa produção irá durar.

Tudo é válido

Não quero advogar que tudo que precisamos é escrever textos perenes. Não faça isso, pela’mor’d’Deus!

Como engenheiro, grande parte dos nosso trabalho no dia a dia é voltado a entender e usar tecnologias. Eu mesmo me proponho a fazer uns tutoriais super bobos para entender como alguns frameworks funcionam. Isso é super válido, mesmo que seja datado.

Por exemplo, no post acima eu escrevo uma série sobre como configurar minimamente algumas tecnologias usando Quarkus. Faço isso como conteúdo de fácil mastigação para iniciantes, sei que vão ajudar várias pessoas, e, alias, são as maiores fontes de tráfego. Mas quando falamos de Tecnologia nossa produção tem um prazo de validade curto. Esse post ficará obsoleto quando vier uma nova versão do Quarkus.

Mas e se escrevermos sobre a Técnica? Isso fará que o nosso conteúdo dure um pouco mais. Porém não é tão fácil escrever sobre técnicas, é preciso muita pesquisa. A Técnica nem sempre é o conteúdo mais óbvio em uma documentação e por isso vemos tecnologias muito má utilizadas. Já virou até piada que existem algumas empresas que nem tem 100 clientes, mas já tem uma supre infraestrutura cloud escalável. Isso acontece porque as pessoas estão tão focadas que na tecnologia que se esquece da técnica. Quando vamos escrever sobre técnica precisamos nos perguntar: Qual é o método? E qual é o fim?

Então quando encontramos uma tecnologia, depois de escrevermos como usar (não precisa ler o manual), podemos escrever qual é o problema que ela se propões a resolver e como ela o faz (aí sim precisa ler as partes chatas do manual). Um conteúdo focado na Técnica terá uma vida útil muito maior do que um conteúdo focado na tecnologia. Por exemplo, é muito improvável que você compre um livro de gerência de projetos waterfall? Mas O Mítico Homem-Mês foi escrito 30 anos antes do Manifesto Ágil, mas ele continua tão atual e relevante.

E os conceitos? Conceitos são uma abstração unificadora. São textos onde é preciso gastar muito tempo e empreender muito esforço, mas são bem recompensadores. Mesmo se falharmos retumbantemente com eles e ninguém demonstrar interesse! Porque? Porque quando paramos para pensar em conceitos fazemos elaborações mentais complexas e mesmo que não consigamos aplicar a posterior, elas ainda estão lá. Podemos usar depois, melhorar. Livros sobre conceitos são bastantes úteis. Um deles é o Domain-Driven Design: atacando as complexidades no coração do software, mesmo com sua escrita extremamente maçante (eu não gostei da escrita, posso?), ele apresentou conceitos muito relevantes para criação de aplicações e posso dizer que daqui a 20 anos, ele só estará desatualizado se alguém escrever outro livro expandindo ele.

É o mesmo que acontece com o Padrões de Projetos: Soluções Reutilizáveis de Software Orientados a Objetos. Esse livro muitas pessoas odeiam, mas ele de certa forma foi uma marco na indústria do software.

Porque eu estou escrevendo?

Agora você pode se perguntar porque eu estou escrevendo essas linhas? O que me motiva?

Eu acabei de avaliar todas as palestras submetidas para a trilha de #Microservices do #TheDevConf. Para se submeter uma proposta de apresentação, não é preciso muito esforço, só é preciso descrever a ideia em umas 4 linhas e dizer qual é a intenção para os coordenadores. Você pode escrever uma descrição em 5 minutos. Mas se a palestra for aceita, ele vai ficar para sempre registrada.

Como coordenador, minha função é escolher material de grande qualidade e relevância. Essas palestras irão ficar para sempre em alguma plataforma de mídia. E se essa palestra puder ser relevante por mais tempo? Não seria legal?

Mas para submeter palestras relevantes é preciso gastar um tempo pensando nas Técnicas e nos Conceitos. Em 10 anos poucos saberão qual é o framework mais usado hoje. (Faz o teste e pensa no framework de 10 anos atrás). Mas daqui a 10 anos, falar sobre 12 Fatores ainda será importante.

Mas isso envolve um trade-off, como eu disse, muito do meu tráfego são tutoriais bobinhos que em pouco mais de 2 anos estarão totalmente inutilizados. Entre os meus posts, eu tenho dois que foram muito relevantes, um demorou para decolar e outro foi bem visualizado logo de cara. Mas agora se inverteu. Você consegue dizer qual é?

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Victor Osório

Senior Software Engineer@Openet | Java | Software Architect | Technology | Society